quinta-feira, 8 de março de 2012

Artigo: "Somos mulheres. Somos tecelãs"


 
Somos mulheres. Somos tecelãs.

E foi em um dia 8 de março de 1857, que tecelãs de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica onde trabalhavam mais de 16 horas todos os dias. Elas reivindicavam 10 horas de trabalho diário para poderem se multiplicar em mães, filhas, avós e esposas.

Somos tecelãs.
E aquelas operárias têxteis de Nova Iorque, como muitas de nós, teceram sonhos com fios de lágrimas. Nas 16 extenuantes horas de trabalho diário, recebiam menos de um terço do salário dos homens. Pouco depois, um incêndio. As portas da fábrica foram fechadas por fora. E quase 130 mulheres morreram queimadas.

Somos mulheres. Somos todas tecelãs.
Pois sabemos tecer a vida com esperança. Em 1910, em uma conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, em homenagem àquelas operárias barbaramente assassinadas, o mundo todo passou a comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher".

Mulheres tecelãs.
Vivemos dentro de um tecido social machista. Por muitos séculos nossa participação na sociedade e o exercício de nossa cidadania foram secundários no fio da narrativa histórica. Somente há 80 anos, conquistamos o direito do voto. E ainda hoje lutamos por uma sociedade menos desigual, numa tentativa, por exemplo, de ampliar nossa participação na Câmara Federal, hoje em vergonhosos 8% das 513 cadeiras legislativas.

Tecelãs de Nova Iorque.
Representando mais da metade da população do Brasil e participando ativamente, no mesmo percentual que os homens, do contingente economicamente ativo, ainda sentimentos na pele as dores das tecelãs nova-iorquinas. O preconceito vem impresso no final do mês, em holerites desiguais, embora em funções semelhantes. O preconceito de 1857 se faz presente.

A violência também é a mesma. Hoje, cinco mulheres são agredidas a cada dois minutos no Brasil. Em Nova Iorque, fecharam a porta da fábrica. Aqui, no Brasil, até 2006, o Estado fechava os olhos. A Lei Maria da Penha veio mostrar que a violência contra a mulher precisa ser combatida por toda a sociedade brasileira. Aliás, este é o ambiente da tecelagem: o fazer conjunto!

Diante de tudo o que precisa ser mudado, nesta complexa trama social que nós, mulheres- tecelãs, trabalhamos para dar uma forma mais humana, o importante é saber que respeitar os direitos da mulher é condição vital não só para a construção de um País mais justo, mas, principalmente, para a consolidação de uma Nação verdadeiramente desenvolvida.

Obrigada a todos.
 
Aline Corrêa
Deputada Federal

(Discurso proferido na Câmara Federal, neste 08/03/2012)

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